Os Estados Unidos, a maior e mais rica agricultura do mundo, também têm agricultura familiar. A rigor, quase só têm agricultura familiar: em 2015, 98,7% das propriedades estadunidenses se enquadravam nesta classificação e respondiam por 89% da produção agrícola daquele país, segundo o relatório “As diversas propriedades familiares da América”, do Departamento de Agricultura (USDA), em 2023 este numero se manteve (grifo nosso).
A razão para isso é a definição do que seja agricultura familiar: nos Estados Unidos inclue-se nessa categoria toda e qualquer propriedade rural em que a pessoa ou família que toca a produção seja proprietária de mais que 50% do negócio, não importa o tamanho da propriedade, nem a renda bruta e patrimônio, nem o número de empregados e de sócios. O critério essencial é a administração majoritária do negócio.
No Brasil, a definição é mais restrita: só é agricultor familiar quem tenha área de terra até quatro módulos fiscais (varia de região para região), use predominantemente mão-de-obra da própria família, tenha maior parte da renda gerada na produção da fazenda, e a fazenda seja dirigida pela família. É basicamente um critério definido pelo tamanho da renda e do patrimônio do produtor.
Por isso, a agricultura familiar no Brasil, apesar de reunir grande número de propriedades, responde por pouco mais de 30% do valor da produção agrícola, segundo mostra o trabalho do professor Rodolfo Hoffmann, um dos maiores estatísticos agrícolas do País.
Nos EUA, já que critério se apoia apenas na “administração”, como agricultura não-familiar restam apenas 1,3% das propriedades agrícolas, as das grandes companhias, administradas por gerentes não proprietários e, no outro extremo, as dos de pequenos produtores associados, em que a família que toca a produção não tem a maior parte do negócio.
Propriedades Familiares
Pela classificação estabelecida pelo Serviço de Pesquisa Econômica dos EUA, há três grandes agrupamentos de agricultores familiares – a Pequena Agricultura Familiar, a Agricultura Familiar de Porte Médio e a Agricultura Familiar de Grande Escala –, os quais, por sua vez, se subdividem em oito tipos de propriedades, diferentes segundo seu uso e renda.
O relatório registra um total de 2.259.274 propriedades rurais nos Estados Unidos, assim consideradas quaisquer propriedades que tenham produzido e vendido, no ano, pelo menos mil dólares em produtos agropecuários ou que, em função da área cultivada ou do tamanho do rebanho, poderiam tê-lo feito. Baseado numa amostragem de quase 20 mil fazendeiros, eles estimam que quase 90% (1.846.955) dessas propriedades se enquadram dentro da Pequena Agricultura Familiar.
Esse grupo se subdivide em três tipos: “Fazenda de Ocupação Agrícola”, “Fazenda Aposentadoria” e ”Fazenda de Ocupação Não-Agrícola”. Os tipos "Aposentadoria" e "de Ocupação Não-Agrícola" reúnem 59% das propriedades rurais do EUA, as quais são consideradas ”fazendas” apesar de sua principal renda não vir da produção agropecuária.
O maior desses subgrupos é o de "Ocupação Não-Agrícola" (42,2% das propriedades), que reúne 868.523 fazendas e sua principal ocupação e fonte de renda são atividades tais como colônias de férias, pesque-pague, arvorismo e pistas de rali. As fazendas do tipo “Aposentadoria” (346.489) somam 16,8% das propriedades rurais estadunidenses e, como o nome sugere, seus proprietários obtêm a maior parte de sua renda de suas aposentadorias.
O subgrupo ”Fazenda de Ocupação Agrícola” se subdivide entre aquelas de “Vendas Baixas” (menos que 150 mil dólares por ano), que somam 521.350 propriedades (25,3%), e aquelas de “Vendas Moderadas”, 110.593 propriedades (5,4%) que faturam de 150 mil a menos de 350 mil dólares/ano.
A contribuição de cada um
Em conjunto, as propriedades da Pequena Agricultura Familiar ocupam 48% das terras cultivadas e respondem por 24,2% do valor da produção agrícola. Na Agricultura Familiar de Porte Médio há 126.331 propriedades que cultivam 22,6% das terras, faturam de 350 mil a menos de um milhão de dólares e amealham 22,8% do valor de produção.
A Agricultura Familiar de Grande Escala reúne 53.268 propriedades, do tipo “Fazenda Familiar Grande”, que faturam entre um milhão e menos que cinco milhões de dólares por ano, e 5.747 propriedades, do tipo “Fazenda Familiar Muito Grande“, que faturam pelo menos cinco milhões de dólares por ano. Juntas, elas ocupam 23% das terras cultivadas, e respondem por 42,4% do valor de produção agrícola.
Por esses números já se percebe que a Agricultura Familiar de Grande Escala e a de Porte Médio dominam a produção agrícola nos Estados Unidos. Juntas, respondem por 86,5% do valor de produção de leite e derivados, 70% do valor de frutas, castanhas e produtos de viveiros e estufas, 80,7% do algodão, 76% do valor da soja e dos cash grains (grãos em geral, exceto arroz, trigo, milho e soja), 55% do valor da carne bovina, 66% da carne suína e 45,5% do valor das carnes de aves.
Ainda assim, o peso da Pequena Agricultura Familiar é relevante. Ela é responsável por 57,9% do valor de produção de feno, por 51,9% do valor das carnes de aves, 26% da carne suína, 23% da carne bovina, 20,9% do valor da soja e de cash grains, 11,7% do algodão, 9,1% do valor de frutas, castanhas e produtos de viveiros e estufas e 7,4% do valor da produção de leite e derivados.
A agricultura não-familiar soma 26,9 mil propriedades (1,3% do total), ocupa 6,1% das terras e responde por 10,6% do valor da produção. Ela tem alguma relevância na produção de carne suína (8,1%), feno (9,2%), carne bovina (21,6%) e de frutas, castanhas, e produtos de viveiros e estufas (20,7%).
Fonte: Reprodução: Fonte: USDA, NACIONAL aGRICULTURAL STATISTICS SERVICE ANDE ECONOMIC RESERCH SERVICE; EARCGE